terça-feira, 5 de novembro de 2013

O analfabeto moderno

O Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, mede os níveis de alfabetismo da população brasileira adulta. A definição do instituto para um analfabeto funcional é a seguinte: “É a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever frases simples, não possui as habilidades necessárias para satisfazer as demandas do seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.”

O termo soa ofensivo. Parece algo distante, não adequado para pessoas que seguram um jornal nas mãos, se comunicam diariamente na internet e disparam opiniões sobre os mais variados temas.

Pois então: segundo o instituto, aproximadamente quatro em cada dez universitários brasileiros são analfabetos funcionais. Eles sabem ler, formar algumas frases, assinar o nome na prova. Mas não possuem capacidade aceitável de interpretação. Avaliar, relacionar, ponderar, julgar – todas tarefas que exigem esforço hercúleo do aluno. Calcular, só se o professor explicar exatamente como usar a fórmula.

O analfabeto funcional ignora as entrelinhas: a ironia passa despercebida e pode ser interpretada como uma ofensa. A metáfora perde o sentido e ele se pergunta: por que essa historinha para depois falar de política? Ele ignora todas as nuances que tornam a comunicação uma forma de arte.

Insiste-se para que os alunos leiam mais, mas fica a pergunta: será que eles sentem aversão ao texto porque são preguiçosos ou porque não entendem nada? É cruel: a criança vira adolescente e passa mais de uma década em sala de aula – e mesmo assim não consegue se comunicar direito. O que não for literal, para lembrar a adorável professora, “vai entrar por um ouvido e sair pelo outro”.

Desse modo a faculdade, que deveria formar profissionais, precisa ensiná-los a ler. Não são todos, mas é quase a metade! Em consequência disso, a graduação não pode exigir demais dos alunos. Para que todos aprendam, o ensino acaba sendo nivelado por baixo.


Esse efeito dominó vem da base. Suas consequências são sentidas de modo avassalador na economia e no mercado de trabalho. Uma pergunta para aqueles que tem uma visão de mundo limitada e singela: será que só aumentar o salário do professor resolve?