O Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, mede os
níveis de alfabetismo da população brasileira adulta. A definição do instituto para
um analfabeto funcional é a seguinte: “É a pessoa que, mesmo sabendo ler e
escrever frases simples, não possui as habilidades necessárias para satisfazer
as demandas do seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.”
O termo soa ofensivo. Parece algo distante, não adequado para
pessoas que seguram um jornal nas mãos, se comunicam diariamente na internet e disparam
opiniões sobre os mais variados temas.
Pois então: segundo o instituto, aproximadamente quatro em cada dez universitários brasileiros são analfabetos funcionais. Eles sabem ler,
formar algumas frases, assinar o nome na prova. Mas não possuem capacidade aceitável
de interpretação. Avaliar, relacionar, ponderar, julgar – todas tarefas que
exigem esforço hercúleo do aluno. Calcular, só se o professor explicar exatamente
como usar a fórmula.
O analfabeto funcional ignora as entrelinhas: a ironia passa
despercebida e pode ser interpretada como uma ofensa. A metáfora perde o
sentido e ele se pergunta: por que essa historinha para depois falar de
política? Ele ignora todas as nuances que tornam a comunicação uma forma de arte.
Insiste-se para que os alunos leiam mais, mas fica a
pergunta: será que eles sentem aversão ao texto porque são preguiçosos ou
porque não entendem nada? É cruel: a criança vira adolescente e passa mais de
uma década em sala de aula – e mesmo assim não consegue se comunicar direito. O
que não for literal, para lembrar a adorável professora, “vai entrar por um
ouvido e sair pelo outro”.
Desse modo a faculdade, que deveria formar profissionais,
precisa ensiná-los a ler. Não são todos, mas é quase a metade! Em consequência
disso, a graduação não pode exigir demais dos alunos. Para que todos aprendam,
o ensino acaba sendo nivelado por baixo.
Esse efeito dominó vem da base. Suas consequências são
sentidas de modo avassalador na economia e no mercado de trabalho. Uma pergunta
para aqueles que tem uma visão de mundo limitada e singela: será que só
aumentar o salário do professor resolve?