terça-feira, 11 de junho de 2013

O homem que trabalhava

As raízes da devoção ao trabalho estão no século 17, na ética protestante: trabalhar era um chamado para servir a Deus e a sociedade. Havia uma associação forte entre o trabalho e a missão do bom cristão. 

Hoje a nobreza do trabalho está desgarrada da religião. O trabalho está mais relacionado com o status. Para mostrar que são importantes, pessoas falam que estão “atoladas” de trabalho. Trabalhar por longas horas, na nossa cultura, mostra que você é importante.

Leitor: você deve conhecer alguém que trabalha demais e nunca tem tempo para nada. Ele parece se queixar dessa rotina, mas isso é apenas uma ostentação disfarçada. Ele quer demonstrar importância. Ele não vai dizer: “Olhe e inveje a minha importância!”. Ele vai ter a agenda lotada, o telefone tocando sem parar e vai fingir que esqueceu que você existe.

Falo deste perfil profissional para contrastar com outro tipo conhecido de trabalhador: aquele que trabalha das 8 às 18, e vive à noite, nos feriados e finais de semana. Você identifica este trabalhador facilmente: pergunte para ele o que ele faria se ganhasse na loteria. Ele vai responder, antes de falar como gastaria o dinheiro, que nunca mais apareceria na empresa e que mandaria o chefe para aquele lugar.

Ambos os profissionais (os fissurados e os frustrados) fazem com que o trabalho seja um problema para suas vidas. Estes, praguejando e reclamando da rotina e do salário. Aqueles, ignorando o que é essencial em função do que ele considera status.

Por isso o sonho de 9 em cada 10 brasileiros (palpite meu) é passar em um concurso público. Além da estabilidade, conseguiria unir status com pouco trabalho. Será que esta é a melhor solução? Será que é mesmo necessário separar vida pessoal e profissional? É muita utopia querer que o trabalho seja parte da vida, numa rotina agradável de pequenas realizações? 

Desde pequenos escutamos que o trabalho dignifica o homem. O que falta é o homem dignificar o trabalho.