terça-feira, 18 de junho de 2013

O homem que anotava

Depois da morte de Roberto Civita, chefe da Editora Abril e criador da revista Veja, diversos textos póstumos foram escritos em sua homenagem. Li todos que pude: queria saber mais sobre a vida da pessoa que criou a revista que sempre admirei. Funciona nessa ordem: a pessoa ilustre morre, nasce a lenda e os que ficam ficam curiosos (cacofonia proposital pode).

Considerava-se um homem de sorte: um privilegiado por ter nascido com as condições necessárias para construir sua vida. Ele lamentava o fato de muita gente talentosa não contar com essa combinação de fatores – e passar despercebida. Não sei se concordo, mas é um exercício de humildade a ser respeitado.

Em todos os textos que li sobre seu jeito de ser, percebi três pontos recorrentes: além das afirmações humildes, duas lições que se encaixam na pauta de assuntos que este pequeno espaço costuma abordar.

A primeira: RC, como era chamado, era um grande ouvinte. Quando alguém lhe contava algo interessante, ele exclamava algo assim: “Fascinante!” (Ouvir calado só funciona quando você está sendo repreendido). Grande editor que era, tornou-se crítico e seletivo também na vida: mas mesmo quando a conversa não agradava muito, dizem que, de modo quase teatral (logo perceptível), relevava e não abandonava seu interlocutor.

A segunda lição: levava uma caderneta no bolso onde anotava tudo que julgava digno de nota: ideias, números, autores e até os comentários de seus interlocutores. Segundo RC, este hábito era para contrapor sua memória fraca. Pelo que tenho visto, a memória fraca e em constante mutação é característica do ser humano. Só um método eficiente de arquivamento pode nos salvar do esquecimento.

Para concluir, um trecho emblemático dos rascunhos de suas memórias: “Se você consegue fazer as coisas que ama e as faz bem e se diverte com elas e também é reconhecido, admirado (e invejado) e ainda por cima ganha dinheiro com isso, você é verdadeiramente abençoado. Eu tenho sido”.