Numa daquelas doces manhãs de sono eterno, acordo com uma
mensagem no celular. Como diria Seu Madruga, com que direito me acordam as 11
da madrugada?
Sou cliente da operadora Vivo, e já estou acostumado com as
mensagens inúteis ou repetitivas que ela envia só para me acordar. Desta vez,
contudo, a mensagem era diferente:
“Por determinação da Anatel, caso não queira receber
mensagem publicitária desta prestadora, envie SMS gratuito com a palavra SAIR
para 457.”
Desconfiado do lapso de bondade, socorri-me na internet.
Fui pesquisar se não era algum tipo de pegadinha: uma daquelas em que eu
mandaria o torpedo para o tal 457 com o texto SAIR e contrataria um novo
serviço, ou então começaria a receber diariamente o horóscopo, por exemplo. Meu
medo era que aquele torpedo, se respondido, gerasse mais torpedos inúteis.
Mas não desta vez! A Anatel realmente deu um prazo para as
operadoras solicitarem aos clientes se eles desejam ou não continuar recebendo
mensagens publicitárias. Fiz o procedimento e parece ter surtido efeito. Mas mesmo
assim lembrei do gato escaldado, e daquele cachorro mordido por cobra.
É assim que o consumidor se sente com as operadoras
telefônicas: sempre desconfiado, fazendo de tudo para que não seja incomodado e
possa, pelo menos, dormir em paz.
Resumindo: este cliente é despertado com a solução de um
problema. No entanto, por culpa das próprias operadoras, é ressabiado e
hesitante. Antes de plenamente acordado, duvida da própria realidade, e
sente-se vagueando na biblioteca infinita de Jorge Luis Borges, ou num realismo
fantástico de Kafka.
Minto e exagero: ele é simplesmente enganado e não engana
ninguém. É só o Seu Madruga, às 11 da manhã, roncando refestelado no humilde
sofá.