quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O despertar do Seu Madruga


Numa daquelas doces manhãs de sono eterno, acordo com uma mensagem no celular. Como diria Seu Madruga, com que direito me acordam as 11 da madrugada?

Sou cliente da operadora Vivo, e já estou acostumado com as mensagens inúteis ou repetitivas que ela envia só para me acordar. Desta vez, contudo, a mensagem era diferente:

“Por determinação da Anatel, caso não queira receber mensagem publicitária desta prestadora, envie SMS gratuito com a palavra SAIR para 457.”

Desconfiado do lapso de bondade, socorri-me na internet. Fui pesquisar se não era algum tipo de pegadinha: uma daquelas em que eu mandaria o torpedo para o tal 457 com o texto SAIR e contrataria um novo serviço, ou então começaria a receber diariamente o horóscopo, por exemplo. Meu medo era que aquele torpedo, se respondido, gerasse mais torpedos inúteis.

Mas não desta vez! A Anatel realmente deu um prazo para as operadoras solicitarem aos clientes se eles desejam ou não continuar recebendo mensagens publicitárias. Fiz o procedimento e parece ter surtido efeito. Mas mesmo assim lembrei do gato escaldado, e daquele cachorro mordido por cobra.

É assim que o consumidor se sente com as operadoras telefônicas: sempre desconfiado, fazendo de tudo para que não seja incomodado e possa, pelo menos, dormir em paz.

Resumindo: este cliente é despertado com a solução de um problema. No entanto, por culpa das próprias operadoras, é ressabiado e hesitante. Antes de plenamente acordado, duvida da própria realidade, e sente-se vagueando na biblioteca infinita de Jorge Luis Borges, ou num realismo fantástico de Kafka.

Minto e exagero: ele é simplesmente enganado e não engana ninguém. É só o Seu Madruga, às 11 da manhã, roncando refestelado no humilde sofá.