sábado, 26 de março de 2011

O filho guerreiro e o pai empreendedor

Há alguns dias um aluno me perguntou o que eu achava necessário para uma pessoa ser um empreendedor. Se essa pergunta fosse feita ano passado, eu desandaria a falar o que todos falam: o empreendedor é destemido, ele adora desafios, assume riscos, entre outras características tão vagas quanto essas palavras (e repetir palavras à exaustão é a maneira mais fácil de torná-las sem sentido).

Voltando ao tema: por que eu respondo hoje esta pergunta de maneira diferente? Explico.

Meu primo se chamava Gustavo Drehmer. Guto, para os íntimos. Ele faleceu com 27 anos, num acidente de automóvel no início de 2011. Gustavo foi um batalhador: teve hepatite, transplantou o fígado e enfrentava diariamente as conseqüências da sua condição. Mas estava bem, e tudo indicava que teria uma vida saudável e longa. Até que um caminhão velho e desgovernado invadiu sua pista.

Ficamos desolados. Ninguém conseguia acreditar como algo assim poderia acontecer a uma família que lutara tanto. Sou próximo aos meus tios, pais do Guto. Alguns dias depois do acidente consegui tirar um tempo para visitá-los.

Conversamos um pouco sobre a fatalidade e falamos algumas banalidades. Eu extremamente preocupado com o decoro que o momento exigia: apenas ouvia, concordava, falava o mínimo possível.

Meu tio é empresário e empreendedor (diferenças em um próximo texto). Possui uma madeireira que fabrica cabos para diversas ferramentas. O acidente aconteceu num domingo. Na segunda a fábrica não abriu. Na terça meu tio abriu as portas e ligou as máquinas. E explicou-me o motivo: "Não posso esquecer que tenho dez funcionários. Queira ou não, sou responsável por dez famílias".

Hoje, se me perguntam o que é um empreendedor, conto essa história. Falam do empreendedor como se fosse o super-homem saído das páginas de Nietzsche. Não há dúvidas que é importante que essa pessoa tenha certas qualidades para que seu negócio prospere. É importante sim. Mas fundamental é que ele seja um ser humano exemplar. Como o meu tio.

*Publicado originalmente na revista "O Verbo" de março de 2011.