quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A cultura empresarial simples

Há algum tempo ando muito interessado no assunto “cultura empresarial”. A maneira que as coisas são feitas em uma empresa indica se lá é um bom local para se trabalhar e se o ambiente é propício para a inovação. Da mesma forma, a cultura empresarial indica se o local tem funcionários felizes; se o cliente é a prioridade ou se é considerado um mal necessário. E você não precisa de muito tempo para perceber o que acontece: basta reparar em alguns detalhes, em algumas práticas, e você já tem uma ideia de todo o quadro.

Hoje quero chamar a atenção para alguns detalhes da cultura da Amazon, gigante mundial do comércio eletrônico. Lá funciona assim: desde o processo de contratação, procura-se deixar muito claro que as pessoas e a cultura são prioridade, quais são as regras do jogo e como as coisas são feitas. Você também deixa isso claro quando contrata alguém, caro empresário?

A Amazon classifica seus profissionais de duas maneiras: os “missionários”, que são aqueles que incorporam os propósitos da companhia e estão comprometidos com seus projetos, e os “mercenários”, aqueles interessados apenas em questões financeiras, de curto prazo.

Sabe como a Amazon faz para descobrir quem é missionário e quem é mercenário? Eles oferecem dinheiro para ver se os funcionários pretendem pedir demissão. Desta forma, ficam apenas os engajados, os que acreditam no futuro. E você, caro empresário, consegue identificar quem realmente é comprometido na sua equipe? Ou se você oferecesse algum dinheiro todos abandonariam o barco? E você, funcionário, largaria o seu atual emprego por quanto dinheiro?

Mais um exemplo da cultura da Amazon: a empresa pensou em uma série de procedimentos para não cair nas armadilhas burocráticas comuns nas grandes empresas. A Amazon quer permanecer enxuta e ágil, pois sabe que essa é a única maneira de permanecer inovadora. Para que isso aconteça, todas as equipes são “2-pizza teams”, ou traduzindo, duas pizzas precisam ser suficientes para alimentar toda a equipe de determinado projeto. Isso é cultura empresarial: uma regra facilmente entendida e que mostra como as coisas são feitas. Isso gera engajamento de funcionários.

E você, nobre empresário, saberia descrever, de forma simples, como é a cultura da sua empresa?

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Apple da China

O iPhone 6 (tela de 4,7 polegadas) e o iPhone 6 plus (tela de 5,5 polegadas) começaram a ser vendidos há alguns dias. No Brasil, o modelo mais barato custa em torno de R$ 3.000,00.

Toda vez que a Apple lança um produto novo, especialmente uma nova geração de iPhones, a expectativa é imensa. Milhões de fanáticos ao redor do mundo fazem fila e ignoram os preços para adquirir uma unidade o quanto antes.

A marca Apple é muito forte. A maçã estampada na traseira dos aparelhos é símbolo de sofisticação (aqui você escolhe, leitor, qualquer outro adjetivo). Em casos notórios como esse, a marca é o principal fator de escolha.

Este texto, no entanto, pretende chamar a atenção para outra marca, que emula o glamour da Apple no maior mercado consumidor do mundo: a Xiaomi (pronuncia-se xaumi), fabricante de celulares chinesa que se tornou há alguns dias a terceira maior fabricante de smartphones do mundo. Fica atrás da sul-coreana Samsung, primeira colocada, e da Apple, segunda. A terceira colocação veio em função de ser a mais vendida na China.

A marca é chamada (e a Xiaomi adora o apelido) de “Apple da China”, pois também possui clientes fanáticos que acompanham seus inventos tecnológicos. Os lançamentos dos produtos imitam todo o estilo da Apple: grandes eventos amplamente divulgados pela imprensa.

No entanto, o detalhe mais interessante (e que apavora a concorrência): os celulares da Xiaomi possuem tecnologia de ponta, semelhante aos concorrentes, e custam menos da metade do preço. É a competitividade chinesa que, em breve, deve mudar esse mercado absurdamente inflacionado pelo valor subjetivo das marcas.

A Xiaomi está investindo na expansão internacional, e quer entrar forte no Brasil em 2015.

Marcas ocidentais de tecnologia utilizam mão-de-obra e componentes chineses faz tempo. A própria Apple monta seus produtos na China. O que as marcas ocidentais temem (e já falei sobre isso neste espaço) é o momento em que as marcas chinesas vão ser respeitadas, também exercendo influência sobre o consumidor mundial na hora da compra.

Parece que este momento chegou. E o rótulo “Made in China”, outrora ridicularizado, nunca mais será o mesmo.



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Os sonhos impossíveis

Há 20 anos Maria pensa em montar uma loja. Sua avó era costureira, e ela tem belas lembranças da infância, quando ajudava na venda e na entrega das peças. A avó faleceu logo após o avô. Segundo os familiares, não suportou a saudade - nada a ver com o câncer maligno. E a ideia de negócio desapareceu com ela. Maria, no entanto, mantém vivo o sonho de montar uma loja de roupas, exatamente como a sua avó queria.

João tem outro sonho: quer que o filho seja um doutor. Médico, se Deus quiser. Pode ser advogado também. João afirma que não teve oportunidade de estudar, pois teve que trabalhar desde a adolescência. Passou por muitas dificuldades em função da falta de estudo e dos consequentes trabalhos braçais. Mas, bem ou mal, sempre conseguiu manter a família. No entanto, imagina para o filho um futuro diferente.

Quantos Joãos e quantas Marias você já conheceu? Quantos desses sonhadores você já viu, que há anos vislumbram um futuro perfeito? Os sonhos são justificados, mas é preciso lembrar de um detalhe: o mundo mudou e vai continuar mudando. As pessoas também mudaram. E consequentemente a economia e o mercado de trabalho também estão completamente diferentes.

Maria está cega há décadas: acha que sabe fazer e vender o que o consumidor quer ou gosta. Não sabe que hoje, na mesa do jantar, a filha de 13 anos ensina a mãe como se vestir. Maria mal percebeu a força avassaladora do comércio eletrônico. E nem desconfia da irrelevância que algumas lojas assumiram, simples intermediárias expositoras de produtos.

E no caso de João? Será que percebe que formam-se inúmeros doutores, mas que poucos são bem sucedidos? Será que João entende que, ultimamente, o trabalho aumenta enquanto os empregos diminuem? Ou o pior: será que o filho quer ser um doutor? Será que o primogênito não tem um sonho mais forte que o do pai, mas é uma pessoa tão boa e grata que prefere seguir resignado o caminho imaginário desbravado no travesseiro?

É preciso entender melhor o mundo, ou um sonho antigo pode se tornar um pesadelo. A falta de informação gera negócios natimortos o tempo todo. Ou pior: já pensou o peso do seu desejo se tornar a miséria do seu filho mais querido?

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A vitrine errada

Passou há pouco na TV uma reportagem sobre uma fiscalização que o Procon anda fazendo. As lojas que não colocarem preços em todos os produtos da vitrine serão multadas. E a multa é pesada: a mais leve custa 500 pilas.

Vou comentar a questão criticando um pouco o Estado e um pouco o varejista. 

Primeiro, o Estado: a ação do Procon está baseada no que diz o Código de Defesa do Consumidor. É a lei. No entanto, mais uma vez, o Estado acredita que o consumidor é um mentecapto: ele precisa, de acordo com a opinião desses especialistas em consumo, ser protegido do lojista malvado.

O Estado deveria concentrar esforços em punir práticas desleais e abusivas. Condenar o comerciante por não colocar o preço na vitrine (“vitrina” também é correto) é abusar do poder de fiscalização e menosprezar a capacidade de julgamento do consumidor.

A crítica ao comerciante: o senhor sabia que alguns consumidores não entram em lojas que não colocam preço na vitrine? Para o cliente, não colocar o preço é um sinal de que o produto é caro. 

Além disso, nesses tempos de falta de tempo, o preço na vitrine facilita a vida das pessoas. Se o cliente precisa entrar na loja para descobrir o preço e ainda ter que lidar com um vendedor xarope (entupido de metas financeiras), ele provavelmente vai optar por não entrar. E alguns lojistas ainda se espantam com o domínio do comércio eletrônico.

Outra questão: há alguns dias um comerciante reclamou que possuía muitos produtos na vitrine, e que era impossível colocar uma etiqueta com o preço em todos. É um caso clássico de procurar a resposta certa para a pergunta errada. A questão não é como colocar etiqueta de preço em tanta coisa. A questão é: será que é necessário colocar tanta coisa na vitrine?

Não é necessário e nem recomendável. A vitrine precisa sem simples, com pouca informação, constantemente renovada. Coloque só alguns itens representativos (lançamentos, promoções, você que manda!) e contrate vendedores que conhecem os produtos e que tem a capacidade de entender o problema do consumidor.

Vale a pena colocar o preço dos produtos da vitrine. E é a lei. E se você ainda acha que vai enganar alguém (cliente ou concorrente) com essa prática arcaica, precisa aprender um pouquinho mais sobre o comportamento do consumidor moderno.