terça-feira, 28 de agosto de 2012

A credibilidade presumida de quem não escreve errado


Num dos artigos mais lidos do mês no blog da Harvard Business Review (aqui, em inglês), a autora Kyle Wiens defende a ideia de que, na ausência física, nossas palavras escritas são a projeção daquilo que somos. E isso se manifesta nas postagens em blogs, nas atualizações de status do Facebook e na troca de e-mails corporativos.

Com a comunicação e a interação acontecendo cada vez mais na esfera virtual, é natural que as pessoas julguem você a partir daquilo que você escreve na Internet. Por exemplo: se você não sabe a diferença entre “mais” e “mas”, ou se você escreve “concerteza” e “derrepente”, você será negativamente taxado. Injustiça? (Injusto é o tico-tico que, ao dar com o negro filhote de chupim, expulsa do ninho a fêmea inocente).

A autora propõe uma pergunta instigante: Gramática não tem nada a ver com performance no trabalho, criatividade e inteligência, certo? Errado, é a resposta dela. Para Kyle Wiens, se uma pessoa de 20 anos não escreve direito, ela consequentemente perderá oportunidades de trabalho, não importa a área em que atue. Boa gramática é garantia de credibilidade.

Preconceito do mercado? Não, é uma simples relação: se o tempo passou e a pessoa não aprendeu a escrever corretamente, como será o desempenho dela na execução das atividades? Digo mais: como pode uma pessoa se expressar em redes sociais, mandar emails para colegas, chefes e clientes e, apesar dessa exposição, não se preocupar com a qualidade da escrita?

Uma pergunta para colaborar com o argumento da autora: Você indicaria para uma vaga na empresa em que você trabalha aquele amigo do Facebook que escreve tudo errado?


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Aproveitar o momento é impossível!

Pesquisadores mapearam áreas do cérebro de macacos responsáveis pela tomada de decisões e pela avaliação de resultados. O que é mais chocante: acreditar numa pesquisa comparativa entre símios e humanos ou ser informado de que sim, seu cérebro é quase idêntico ao de um mico?

Segundo os pesquisadores, os resultados de algum modo demonstram que pessoas normais não conseguem viver exclusivamente o momento. É um pouco complexa a metodologia da pesquisa (mais aqui, na Veja.com), mas o resultado faz pensar. Segundo os cientistas, as escolhas passadas e a busca por resultados e recompensas provocam em nosso cérebro uma reavaliação constante do passado e de projeções futuras. E isso obviamente afeta o momento, o presente.

Ou seja: só pessoas mentalmente desequilibradas relaxam e aproveitam o momento. Contemplam a lua, os passarinhos ou a chuva sem se preocupar com a vida que passa. Os seres humanos normais estamos (silepse proposital) sempre avaliando o que aconteceu no passado e vislumbrando o futuro. Por isso essa constante inquietação e urgência que você sente.

Mesmo assim se repetem os mantras sobre aproveitar o momento, sorrir e esquecer, levar uma vida simples e despreocupada. Como não é de sua natureza (a não ser que tenha problemas mentais) essa pessoa não conseguirá aplicar à sua vida essa falácia utópica. E então viverá triste por não ter seguido os falsos mandamentos que ela mesma escreveu na agenda e compartilhou no Facebook.

É preciso esquecer essa utopia sobre sossegar e ser feliz. Somos assim, insatisfeitos e famintos por natureza. É o que nos faz prosseguir e sobreviver. Pare de sonhar em ser algo que a sua natureza não permite que você seja. 

A não ser que você seja louco. 



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sobre a utilidade das pesquisas

A francesa Esther Duflo criou uma rede de pesquisadores que avaliam os investimentos sociais a partir de métodos científicos. Os pesquisadores vão a campo para avaliar o que funciona quando se trata de investimento social: algo fundamental num campo dominado pelo uso da retórica e até da picaretagem (mais aqui, no site da INFO).

Com seu método de pesquisa, Esther Duflo conquistou a admiração de Bill Gates, criador da Microsoft e notório financiador desse tipo de estudo: consta que ele já doou mais de U$$ 20 bilhões a iniciativas sociais.

Um bom exemplo introdutório: nos anos 90, o economista Michael Kremer demonstrou que a distribuição gratuita de livros em escolas rurais da África não melhorava o desempenho. Não é preciso nem entrar no mérito da qualidade das publicações.

Algo semelhante por aqui é a falácia de que, se distribuirmos tablets e notebooks, a educação melhora. O que aumentaria, sem dúvida, é a propagação de bobagens em redes sociais. Não existem soluções fáceis para problemas complexos.  

A pesquisas de Esther Duflo seguem essa lógica de avaliação, porém emulando procedimentos de testes clínicos: a mesma população é separada em duas amostras. Uma delas é submetida à solução proposta para determinado problema e, a outra metade, permanece como está.

Duflo percebeu a importância do comportamento das pessoas para alcançar a eficiência. Um exemplo: na Índia, mesmo de graça, as crianças não eram vacinadas. Com um pequeno incentivo – um pacote de lentilhas – as vacinações foram um sucesso (Alunos: alguma relação com o comportamento do consumidor no incentivo ao feedback do pós-venda?).

Duflo constatou também os problemas da oferta de crédito para famílias pobres: em geral, elas ficam ainda mais endividadas, pois o dinheiro recebido não costuma estimular o empreendedorismo...  

E como adotar métodos científicos para o mercado, para o ensino, para as políticas públicas? Até nossas pesquisas, que deveriam trazer a luz, são pouco científicas, carentes de método e objetivo. Apenas refletir e buscar similaridades em trabalhos como o de Esther Duflo já é um alento para o nosso amadorismo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Celular, nova e futura moeda eletrônica


Esqueça o dinheiro, o cheque e o carnê. A hegemonia dos cartões pode ser ameaçada pela  próxima tendência em transações financeiras: o pagamento via celular. O governo prepara um projeto de lei para a adoção de novas moedas eletrônicas, e isso abre caminho para o uso do celular como uma alternativa ao cartão bancário (Detalhes aqui, no site da Folha).

Os bancos não gostam muito da ideia, pois apesar das novas possibilidades, a tendência é que percam mercado e receita com a adoção de meios alternativos de pagamento. Hoje os bancos centralizam as transações e faturam alto com isso.

A maior beneficiaria entre as operadoras é a Vivo, que já tem o seu sistema preparado para operações desse tipo. Essa semana, por exemplo, a operadora anunciou parceria com a PayPal para desbravar o setor (aqui, também no site da Folha).

Dois números demonstram o potencial de crescimento dos pagamentos via celular e consequentemente do mobile commerce: segundo a Anatel, existem hoje no Brasil 116 celulares para cada 100 pessoas. E até 2015, mais da metade da população terá um celular com acesso à internet.

O infográfico abaixo, do site da Folha de São Paulo, mostra como funciona o pagamento via celular:



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sobre o uso adequado das mídias


Quem nunca ouviu a frase “desligue a televisão e vá ler um livro!”? Tudo bem, mas que livro? Qualquer livro deste vasto mercado editorial? Essa expressão revela um pecado, uma injustiça muito cometida e que deu origem a esta reflexão: condenamos o meio em função da mensagem.

Faz tempo que os meios de comunicação são criticados em função de um suposto caráter retrógrado. Especialmente a TV, uma das grandes invenções do homem. “Ver TV” é sinônimo de comodismo e ignorância.

O preconceito chegou à informática: até o PowerPoint é muito criticado, por ter supostamente acabado com a boa palestra, com a boa apresentação. E assim, mais uma vez, a fantástica ferramenta se torna o bode expiatório. Quem leva a culpa por acertar o dedão: o carpinteiro atrapalhado ou o martelo?

As redes sociais estão entrando no mesmo balaio infame. Um local ideal para informação e interação que está sendo condenado. Mas a culpa, mais uma vez, não é da ferramenta, e sim dos usuários. O facebook talvez seja o exemplo mais claro de que problema não é o meio, mas a mensagem que você (sim, você leitor) escreve e divulga.

Assim, seguindo esse raciocínio, se o programa for ruim, quebraremos a TV. Se o PowerPoint atrapalha, aula com giz no quadro negro. Se a rede social não acrescenta, computador no lixo. Quando a solução é o controle remoto, a criatividade, o bom senso. O supostamente nobre ato da leitura não vai resolver nada.

Apenas um problema da tecnologia não tem solução: você, telespectador e internauta.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

As lições do cheque sem fundos


Um ponto do texto anterior merece maior reflexão: os varejistas costumam identificar apenas os clientes que possam dar algum prejuízo. A identificação acontece unicamente para evitar o calote. E enquanto isso, o bom cliente passa despercebido. Ou, pior ainda, é constrangido a provar que pode pagar.

Com a ascensão e domínio dos cartões de débito e crédito como forma de pagamento, a tendência é que o lojista identifique menos ainda o seu cliente. Isso acontece porque, se esse cliente não pagar, o problema é do banco. Curiosamente, o medo do cheque sem fundos valorizava aquele cheque quente e especialmente o seu emissor.

É uma nova era das transações comerciais. A responsabilidade foi transferida ao banco, que cobra uma taxa para assumir esse risco e mediar a transferência. O cheque não vai deixar saudades, mas algumas de suas características não deveriam ser perdidas. Em especial, a estreita relação de confiança que se estabelecia entre o cliente e o varejista.

O início de qualquer estratégia de relacionamento é a identificação e o reconhecimento do cliente, para que ele se torne fiel (aquele que quer voltar a negociar, quer gastar mais e fala bem da empresa). Além de garantir receita, estratégias de relacionamento reduzem diversos gastos, como aqueles de prospecção de novos clientes.