Já visitei empresas em que o departamento de Recursos
Humanos (RH doravante) era inexistente. Consequentemente, as contratações eram
equivocadas por não haver um processo formal de recrutamento e seleção,
correto? Nem sempre.
O setor de recursos humanos só é eficiente quando os
profissionais que o compõem estão conectados aos objetivos e principalmente à
cultura da organização em que atuam. É comum entregar o departamento a pessoas
que não conhecem a própria empresa e muito menos o mercado. Conseqüentemente o
setor fica isolado, como se fossem seres estranhos que cuidam das nossas contas
e trazem novas pessoas para a empresa.
Estando em campo percebe-se que empresas pequenas nem sempre
são prejudicadas por não possuírem um setor de RH. Os proprietários/gerentes
decidem quem entra no time: e isso ocorre porque são donos da empresa e se
preocupam com quem fará parte da "família". O que vale mais: uma
dinâmica de grupo ou explicar para o candidato exatamente como a empresa
funciona e o que se espera dele?
Claro que esse cenário informal e ao mesmo tempo eficiente
nem sempre existe. A alta rotatividade é também conseqüência das contratações
afobadas, sem análise alguma do perfil do candidato. A justificativa tolerável
dos chefes é a escassez de mão-de-obra. Mas estamos fugindo do assunto.
O RH não dialoga na contratação: ele quer saber tudo sobre o
funcionário, e o funcionário, se questionar, ouvirá parcas explicações sobre a
posição pretendida. Não porque o RH não quer dizer, mas porque ele não sabe! O
processo de recrutamento e seleção é o melhor momento para "vender" a
empresa ao candidato, e assim atrair gente capacitada e realmente interessada.
Mas como alguém vai vender algo que não conhece?
Resultado: o funcionário é admitido e não sabe qual é a sua
importância na organização. Faz a sua parte sem saber do todo, sem entender
aonde aquilo vai dar. É algo repetitivo, mecânico, mas que precisa ser feito. Nesse
momento, para resolver o problema, o que o RH faz? Treinamentos a base de
vídeos motivacionais!
As mazelas dos escritórios de hoje começam no papel medíocre
que o RH exerce no momento da contratação. Não há gestão, só burocracia,
compadrio e analise psicológica (?) do candidato. Tanto é que o entrevistado
precisa saber como olhar, onde colocar as mãos, como falar, tudo para causar
uma boa impressão ao psicólogo inquisidor. Claro que existem exceções, mas esse
é um tema que merece ficar na generalização. Pois, em geral, é assim que
funciona.
Esse processo de mudança passa pela seleção criteriosa do
próprio departamento de recursos humanos. Deixar aqueles que já estão no RH
selecionar seus novos colegas só perpetua a espécie e, consequentemente, a
continuidade das práticas nefastas.
Do jeito que as coisas estão, é recomendável que as tarefas
burocráticas permaneçam no colo do RH, distantes dos demais setores. Pois são
atividades que não agregam nada à gestão e ao planejamento. Num cenário ideal, o
departamento de recursos humanos deveria fazer parte da estratégia do negócio,
especialmente no setor de serviços.
O RH deveria deixar o divã: o lugar dele é na gestão, no
planejamento, no marketing, no mercado.