Em geral, publicações sobre empreendedorismo trazem apenas
histórias de sucesso. Empreendedores obstinados, com grandes ideias, que
fizeram esforços que nós, pobres procrastinadores, mal iniciamos. Vender
histórias de sucesso e listar dicas e melhores práticas funciona. Quer dizer:
funciona porque as pessoas compram, leem, curtem, compartilham. Mas funciona na
prática, na aplicação?
É complicado entender as raízes do sucesso – talvez a única
forma de tirar lições práticas. Mais fácil é entender o erro, o fracasso. Seu e
dos outros (www.lucasmiguel.com/erremais).
Mark Twain dizia que um gato que pula no forno quente não
fará isso de novo. O problema, segundo o autor, é que raramente um gato pula no
forno quente. Ou seja: o sucesso do gato depende de não queimar as patas. Mas
se o gato não pular para não se queimar, vai ficar estagnado, sem sair dos
lugares seguros.
E então chegamos no raciocínio central deste texto: o
sucesso sustentado carrega a semente do próprio fracasso. Querer sustentar o
sucesso pode provocar um certo conservadorismo maléfico. E então se evitam
riscos. Não se percebem novos caminhos, oportunidades, atualizações. No Brasil
temos um outro ditado para isso: em time que está ganhando não se mexe. Será?
Pensemos um pouco em outro tipo de sucesso: um
relacionamento bem-sucedido. O que é sucesso em um relacionamento? Durar
bastante, para sempre ("até que a morte os separe"), certo? Logo, as
partes envolvidas vão fazer de tudo para evitar o fim do relacionamento. E
nesse esforço, podem esquecer de cultivar esse relacionamento de uma forma
sadia: crescendo, mudando, aprendendo, construindo confiança, sendo cada vez mais
útil para o outro. Se o foco for fazer de tudo para "blindar” a relação, o
resultado provável será o ciúme e a desconfiança. Ou, a tal semente do
fracasso, sendo germinada despercebida. É triste, mas as boas intenções se
tornam solo fértil para o início do fim.
Resumindo: todo o seu esforço para manter o sucesso atingido
pode ser a principal causa do futuro fracasso. Manter sucesso é arriscar um
pouco. E quem arrisca sempre erra em algum momento. É natural e faz parte do
aprendizado. Quem não erra nunca é como aquele gato, com medo de se queimar,
esperando que alguém lhe traga comida.