sexta-feira, 12 de março de 2010

O primeiro 3D

Acho necessário traçar um paralelo entre a injustiça cometida contra o filme Avatar no Oscar 2010 e um sério mal dos nossos tempos: o “coitadismo”, a preferência cega pelo mais fraco, o supostamente desfavorecido. E até a academia se rendeu. Segue uma questão aparentemente isolada que resume o problema: por que premiar um colosso de 300, 400, 500 milhões de dólares, se um filme melhor foi feito com 10, 11 milhões?

Analisada superficialmente, a idéia até soa pertinente. Prova-se que não é necessário tanto dinheiro para produzir bons filmes. Nessa lógica, Guerra ao Terror venceu porque é uma história melhor, um filme redondinho, feito com orçamento modesto para os padrões de Hollywood. E assim os imbecis urram: a criatividade venceu o dinheiro da superprodução.

Esquecem que Avatar habitou a mente do diretor James Cameron por mais de uma década. Ele teve que inventar uma câmera mais leve para a tecnologia 3D acompanhar seqüencias de ação, caso contrário Avatar não sairia das idéias – ou, pelo menos, não da maneira que Cameron vislumbrou. Outro argumento falacioso: com tanto dinheiro fica fácil fazer um grande filme. Jura? E para levantar essa grana e depois investir tudo no imensurável da mente?

O ator e comentarista de cinema José Wilker falou, na transmissão da rede Globo, que o Oscar 2010 seria um divisor de águas para a indústria cinematográfica: caso Avatar ganhasse, os novos rumos seriam as superproduções, quem sabe sempre em 3D, a nova tendência. Caso contrário (e o contrário aconteceu) o cinema voltaria suas preocupações para bons roteiros, grandes atuações, histórias envolventes, etc.

Acho exagerada a preocupação de Wilker. Há lugar para todos em Hollywood (menos pra você). O sucesso dos blockbusters não depende da premiação da academia. Seu reconhecimento e sobrevivência dependem exclusivamente das bilheterias. O problema aqui levantado é não considerar a experiência deslumbrante que se tem ao se assistir Avatar em 3D. É ignorar todo o minucioso processo que o filme envolveu. É sapatear sobre o conceito de meritocracia, que deveria ser valor fundamental no Oscar.

Vejo nessa injustiça um duro golpe no pioneirismo, confundido com cinema de massa, com indústria cultural (ai, que enjoo). Resumo: a academia de cinema, ao invés de fugir do convencional ignorando Avatar, retrocede na análise dos méritos.

Concluo: ano passado tivemos excelentes filmes premiados. Esse ano tivemos um ótimo filme premiado. Ano que vem teremos outros. Mas um Avatar, ao mesmo tempo inocente e deslumbrante em 3D, nunca mais. Porque o primeiro 3D a gente nunca esquece(rá).