terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O que quer o bom funcionário?

Há alguns dias um amigo teve que viajar a trabalho para Florianópolis. De São Miguel do Oeste até lá são 650km. Iria na terça e voltaria na quarta. No final de semana teria que voltar para Floripa para um compromisso familiar.

Pela empresa ele iria de ônibus: um calvário de aproximadamente 12 horas. Somando ida e volta tem-se  um dia inteiro de agonia e enjoo. A viagem particular seria de avião – bem menos desgastante, apesar das duas horas dirigindo até o aeroporto de Chapecó.  

Perguntei se não havia a possibilidade de ele ficar na capital e trabalhar à distância quinta e sexta. Evitaria o cansaço e economizaria dinheiro. Diz ele que com um computador e um celular resolveria por lá todos os problemas. Mas que devido aos fatores burocráticos que tão bem conhecemos, teria que voltar para o oeste.

Conto essa história banal para lembrar um assunto recorrente em sala de aula: o que motiva um funcionário? A resposta é uníssona: um bom salário! Será que isso basta? Uns trocados a mais resolveriam o problema deste competente amigo meu?

Reter um bom funcionário vai muito além de oferecer uma boa remuneração. Sugiro que o empresário observe a relação trabalhista sob o ângulo singular da conveniência: recompense o funcionário facilitando sua vida.

É frustrante quando sua empresa invariavelmente dificulta seus planos. Claro que nem sempre é possível mudar a rotina de trabalho em função de motivos pessoais. Mas será que não daria para conversar, negociar, flexibilizar?

As empresas mantém processos de controle inventados lá na revolução industrial.  É preciso a qualquer custo bater o ponto exigido pelo RH. E o funcionário precisa estar disponível das 8 às 18. No tempo que sobrar, ele que concilie família, estudos, atividade física, lazer e sono.

Na agitada rotina moderna, as empresas preferidas pelos bons profissionais são aquelas que não empatam sua vida o tempo todo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A primeira impressão de um funcionário


Que a primeira impressão é a que fica já sabemos. Difícil, para muitas empresas, tem sido perceber qual é o momento da primeira impressão de um novo funcionário. Este momento não vem do primeiro dia de trabalho. Ele acontece antes, lá no processo seletivo.

O início da seleção é a divulgação da vaga. Há alguns dias, em um treinamento, um aluno me disse que sua empresa colava anúncios de vagas no vidro da loja, mas ninguém se interessava. Ou será que ninguém lia? Somos bombardeados por informação de todos os lados, e a grande maioria dessa informação é irrelevante. Criamos mecanismos para barrar a enormidade de dados inúteis. Ou seja: se você quiser ser lido, visto ou ouvido, precisa chamar a atenção.

Antes de divulgar uma vaga reflita: onde está o seu funcionário? Quantos anos ele tem? O que ele gosta de fazer? É preciso pensar no recrutamento do mesmo modo que o Marketing pensa no público-alvo. Quanto mais atenção você chamar, maior é a probabilidade de encontrar um bom candidato. E aí vale tudo: redes sociais, programas de rádio de divulgação gratuita,  anúncios dirigidos em jornais e revistas, premiar a indicação de funcionários e por aí vai.

Outro detalhe importante: assim como muitas empresas não fazem processo seletivo algum, outras exigem inúmeros testes. Todos são realmente necessários? E será que o bom candidato está disposto a realizar tanto esforço por uma vaga incerta?

Para que funcione, é preciso haver sintonia entre o processo seletivo e a divulgação da vaga. Isso torna mais eficiente o recrutamento de candidatos e profissionaliza a entrevista de emprego. São essas primeiras impressões que vão marcar e, quiçá, moldar o comportamento do futuro colaborador.

E se a sua empresa não faz processo seletivo algum, apenas entrega o boné para o primeiro interessado que aparecer? Esse descaso será a primeira impressão, aquela que fica.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Por que as mulheres ganham menos


A diferença entre o salário de homens e mulheres no Brasil é, em média, de 28%. Esse número foi divulgado ano passado pelo IBGE. Desenhando: os homens ganham, em média, 28% a mais.

A interpretação de dados como este costuma apontar o dedo indicador para o machismo. Mas de acordo com pesquisadores da Wharton School, nos EUA, a resposta para a menor remuneração das mulheres está diretamente relacionada com as decisões de carreira que elas tomam.

Os pesquisadores analisaram as vagas pretendidas por 1255 profissionais, homens e mulheres, que estavam concluindo algum renomado MBA nos EUA. E eles perceberam que, no momento de escolher as oportunidades, mulheres refletem mais sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, evitam carreiras que exijam viajar muito e se preocupam mais, obviamente, com família e filhos.

Homens, em geral, relevam as intempéries da carreira, desde que a compensação (financeira, hierárquica, etc) valha a pena.

O homem é talhado, desde pequeno, para vencer, crescer, bancar, prover. É isso ou o fracasso. Já a mulher, que no passado não tinha escolha, hoje tem. No entanto, conciliar o papel de mãe e o de profissional, na atual cultura coorporativa, é tarefa hercúlea. Ou até é possível, mas numa posição intermediária na hierarquia executiva. O que explicaria as diferenças salariais.

A última pesquisa nacional por amostragem de domicílio mostra que, no entanto, as mulheres estão estudando mais: 34,9% das mulheres brasileiras tem mais de 10 anos de estudo. Entre os homens, 31% ultrapassam uma década em sala de aula. Essa dedicação vem mudando e deve mudar ainda mais os perfis profissionais no futuro.

Sim, ainda existe machismo na cultura coorporativa. Mas não se pode apontá-lo como único fator para eventuais discrepâncias. Somos, antes de tudo, as nossas escolhas.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O nosso 11 de setembro

No domingo de meio dia, o sempre agradável almoço de família simplesmente não descia. Notícias desencontradas e a preocupação com duas pessoas queridas que não davam notícia. Minha mãe comparou a tragédia da boate Kiss ao atentado terrorista que derrubou as Torres Gêmeas. “Em que ano foi mesmo?” ela perguntou. Eu respondi de modo arrogante que foi em 2001 e que não tinha nada a ver.

Tem tudo a ver, mãe. Peço desculpas aqui, por escrito. A tragédia de Santa Maria é o nosso 11 de setembro. A única diferença é o perfil dos terroristas.

Nossos terroristas são picaretas, desinformados e negligentes. Eles não têm um livro sagrado – mal sabem ler, refestelados no sofá. Lá longe o que mata é um atentado suicida. Aqui é a displicência, a embriaguez, a gambiarra.

Nossos terroristas, acredite, são mais hereges que os deles. Eles justificam seus crimes alegando que foi uma fatalidade, ou o destino ou, heresia maior, alegam que foi vontade divina. Lá, Deus é o motivo. Aqui, Deus é a desculpa.

Nossos terroristas contam com o apoio velado dos moralistas. Maltratando a língua portuguesa e os que sofrem, questionam nas redes sociais os hábitos e costumes dos envolvidos. Como se Deus abandonasse os seus em função de um comportamento que eles (eles!) julgam inadequado. Se lhes falta misericórdia, que tenham ao menos a decência de um silêncio decoroso. Quantos “curtir” lhe renderam a dor alheia? 

Nossa ameaça é tampouco um movimento separatista. Nossos terroristas não reivindicam nada: são apenas malandros inconsequentes, especialistas no jeitinho brasileiro. Eles são os responsáveis por tornar seu país um local onde se vê de tudo – menos as fatalidades.

Estou há dias procurando uma maneira de terminar este texto. Escrevo e apago – não encontro as palavras. As duas pessoas queridas não deram notícia. Elas foram a devastadora notícia. Palavras, por mais bem escritas, não importam mais.