segunda-feira, 24 de junho de 2013

A individualidade confundida

Eu sou um individualista. 

Se não houvesse texto, só essa afirmação, o que você pensaria?

Costumamos considerar “individualismo” e seus derivados termos pejorativos. Confundidos muitas vezes com egoísmo. Utilizado também para se referir a alguém que não consegue se relacionar com as pessoas. Ou talvez a maior simplificação que conheço: “Eis um narcisista!”. O conhecimento é limitado, o vocabulário nem sempre.

O egoísta, de tão imaturo emocionalmente, nem consegue ser um individualista. Vive em bandos, apoiando a maioria ou o que for conveniente, aproveitando a situação para se promover (ou: o que move cada manifestante?).

Digamos que eu seja, ou melhor, que eu tente ser, um individualista no bom sentido. 
Um individualista, no bom sentido, é alguém que busca a independência, a autonomia. Acredita no que faz, e tenta ser senhor do próprio destino. Evita encontrar culpados para suas angústias, mesmo sabendo que certos eventos são imprevisíveis e incontornáveis. É um otimista: ele trabalha acreditando que os fatores que ele não controla irão se encaixar. Pura sorte.

Falei em trabalho, e encontro por acaso o mote deste texto: desconfio do termo “vestir a camisa”, que as empresas utilizam para se referir a um funcionário comprometido.
Ele precisa de um motivo para vesti-la. E esse motivo vem da individualidade: perceber que o ambiente de trabalho lhe favorece, estimula seu crescimento, entende suas necessidades. Só assim ele irá retribuir com bom trabalho, bons resultados e bom relacionamento com as pessoas envolvidas.

Temo as pedradas, mas uso meu exemplo: sou um professor individualista. Minha alegria é apoiar um aluno, vê-lo evoluir, mas não é só essa satisfação que me move. Quero crescer junto, aprender também. Uma noite inteira de aula precisa me beneficiar de algum modo: e aqui, percebemos que o indivíduo precisa encontrar propósitos naquilo que faz.

É preciso esquecer a ideia do sacrifício, da pessoa se doar sem nada em troca. A filosofia de recompensas para os dois lados funciona no trabalho e na vida pessoal. Individualista que sou, quero montar a melhor aula, quero dominar a arte da didática e, consequentemente, ser valorizado e reconhecido. Será que estou pensando só em mim? 

terça-feira, 18 de junho de 2013

O homem que anotava

Depois da morte de Roberto Civita, chefe da Editora Abril e criador da revista Veja, diversos textos póstumos foram escritos em sua homenagem. Li todos que pude: queria saber mais sobre a vida da pessoa que criou a revista que sempre admirei. Funciona nessa ordem: a pessoa ilustre morre, nasce a lenda e os que ficam ficam curiosos (cacofonia proposital pode).

Considerava-se um homem de sorte: um privilegiado por ter nascido com as condições necessárias para construir sua vida. Ele lamentava o fato de muita gente talentosa não contar com essa combinação de fatores – e passar despercebida. Não sei se concordo, mas é um exercício de humildade a ser respeitado.

Em todos os textos que li sobre seu jeito de ser, percebi três pontos recorrentes: além das afirmações humildes, duas lições que se encaixam na pauta de assuntos que este pequeno espaço costuma abordar.

A primeira: RC, como era chamado, era um grande ouvinte. Quando alguém lhe contava algo interessante, ele exclamava algo assim: “Fascinante!” (Ouvir calado só funciona quando você está sendo repreendido). Grande editor que era, tornou-se crítico e seletivo também na vida: mas mesmo quando a conversa não agradava muito, dizem que, de modo quase teatral (logo perceptível), relevava e não abandonava seu interlocutor.

A segunda lição: levava uma caderneta no bolso onde anotava tudo que julgava digno de nota: ideias, números, autores e até os comentários de seus interlocutores. Segundo RC, este hábito era para contrapor sua memória fraca. Pelo que tenho visto, a memória fraca e em constante mutação é característica do ser humano. Só um método eficiente de arquivamento pode nos salvar do esquecimento.

Para concluir, um trecho emblemático dos rascunhos de suas memórias: “Se você consegue fazer as coisas que ama e as faz bem e se diverte com elas e também é reconhecido, admirado (e invejado) e ainda por cima ganha dinheiro com isso, você é verdadeiramente abençoado. Eu tenho sido”. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

O homem que trabalhava

As raízes da devoção ao trabalho estão no século 17, na ética protestante: trabalhar era um chamado para servir a Deus e a sociedade. Havia uma associação forte entre o trabalho e a missão do bom cristão. 

Hoje a nobreza do trabalho está desgarrada da religião. O trabalho está mais relacionado com o status. Para mostrar que são importantes, pessoas falam que estão “atoladas” de trabalho. Trabalhar por longas horas, na nossa cultura, mostra que você é importante.

Leitor: você deve conhecer alguém que trabalha demais e nunca tem tempo para nada. Ele parece se queixar dessa rotina, mas isso é apenas uma ostentação disfarçada. Ele quer demonstrar importância. Ele não vai dizer: “Olhe e inveje a minha importância!”. Ele vai ter a agenda lotada, o telefone tocando sem parar e vai fingir que esqueceu que você existe.

Falo deste perfil profissional para contrastar com outro tipo conhecido de trabalhador: aquele que trabalha das 8 às 18, e vive à noite, nos feriados e finais de semana. Você identifica este trabalhador facilmente: pergunte para ele o que ele faria se ganhasse na loteria. Ele vai responder, antes de falar como gastaria o dinheiro, que nunca mais apareceria na empresa e que mandaria o chefe para aquele lugar.

Ambos os profissionais (os fissurados e os frustrados) fazem com que o trabalho seja um problema para suas vidas. Estes, praguejando e reclamando da rotina e do salário. Aqueles, ignorando o que é essencial em função do que ele considera status.

Por isso o sonho de 9 em cada 10 brasileiros (palpite meu) é passar em um concurso público. Além da estabilidade, conseguiria unir status com pouco trabalho. Será que esta é a melhor solução? Será que é mesmo necessário separar vida pessoal e profissional? É muita utopia querer que o trabalho seja parte da vida, numa rotina agradável de pequenas realizações? 

Desde pequenos escutamos que o trabalho dignifica o homem. O que falta é o homem dignificar o trabalho.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Plante verduras e não fume

Quem assistiu a qualquer jornal no dia mundial de combate ao tabagismo (31 de maio) já conhecia as reportagens: dados sobre casos de câncer, médicos falando dos malefícios, pessoas que abandonaram o vício e são felizes... A mesma conversa de sempre.

Os ativistas do Facebook também compartilharam suas mensagens antitabagistas. Estamos criando uma geração que pretende salvar o mundo e as pessoas. Mas sem tirar o notebook do colo. Ponto e parágrafo.

Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) 200 mil famílias vivem do plantio do fumo. Dessas, aproximadamente 90% estão na região sul.

O governo vem incentivando os agricultores a plantarem, ao invés de fumo, frutas e hortaliças. No entanto, estes produtos não trariam os mesmos ganhos que o tabaco. 

Além de questões básicas de oferta e demanda, questões técnicas complicam essa transição. O fumo, por exemplo, não exige o manejo e a logística das hortaliças. Além disso, em especial na região sul, é uma cultura que explora terrenos acidentados, de difícil acesso. 

O Brasil é signatário de uma convenção para controlar o tabaco: um tratado internacional da Organização Mundial da Saúde, onde os países se comprometem em adotar medidas e restrições nas áreas de propaganda e patrocínios, advertências sanitárias (as medonhas fotos nas carteiras de cigarro), tratamento médico, comércio ilegal (contrabando do Paraguai), além de regular preços e aumentar impostos sobre cigarros.

A eliminação das plantações de fumo chegou a entrar em pauta nas discussões entre os países, mas não foi oficializada. Seria característico dos novos tempos: enquanto se fala em legalizar a maconha (descriminalizada ela já foi... Não é, usuário?) cogita-se legislar sobre o que o agricultor pode ou não plantar na própria terra. 

Que o cigarro faz mal todo mundo sabe. Maconha também faz mal, mas afirmar isso é coisa de reacionário careta. Por isso mudo o enfoque: minha preocupação agora é com os milhares de colonos fumicultores. Vou organizar uma mobilização por eles no Facebook. Conto com sua ajuda, leitor: basta curtir, compartilhar e esperar por um mundo melhor.