Passadas as eleições, não se sabe ao certo o que deixa o gosto
mais amargo na boca: a campanha eleitoral que graças a Deus terminou, ou o
comportamento pós-eleitoral, tanto dos vencedores quanto dos derrotados nas
urnas.
Os perdedores reclamam que a sociedade não sabe (ou só desta
vez não soube) votar. Lamentam que foi a cidade que perdeu, e não eles (alguns
deles perderam ou perderão um cargo de confiança). Falam que o candidato eleito
prometeu muito e não vai cumprir nada e que, ano que vem, o caos se instaura.
Em geral, no entanto, compreendemos a dor de quem perde: nada do que é humano
nos é estranho, afinal.
Por isso é que o papel mais lamentável nesse cenário
eleitoral definido é o comportamento do vencedor. Quem já venceu, não
satisfeito, precisa ainda humilhar o derrotado em estado de luto. Será que o
opositor político, pelo simples fato de ser oposição, é alguém do mal? É alguém
que merece não somente a derrota mas também (cuidado, pois este é o argumento
dos tiranos) a expurgação? Não basta ao fervoroso cabo eleitoral os próximos
quatro anos de apadrinhamento e status de funcionário público? Até outro dia o
inimigo de hoje não era um vizinho querido, um cliente fiel, um amante
insuspeito?
Até pouco tempo, os comentários pós-eleitorais aconteciam em
casa, no trabalho, nas bodegas. Seu alcance era limitado, se perdiam no ar, no
calor da discussão. Hoje, com a onipresença do Facebook, a revolta do derrotado
e a soberba do vencedor são lançadas na rede com ódio generalizado, sem
destinatário, e ali permanecem gravadas. Será que essas ofensas proscritas (e muitas
mal escritas) serão esquecidas?
Dizem que os políticos são corrompidos. Pelo comportamento
dos eleitores, quem corrompe é a política.